História
A capoeira é
uma expressão cultural brasileira
que mistura arte marcial, esporte, cultura popular, dança
e música.Desenvolvida
no Brasil por
descendentes de escravos africanos, é
caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando
primariamente chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas,
cotoveladas, acrobacias em
solo ou aéreas.
Uma característica que distingue a capoeira da maioria das
outras artes marciais é
a sua musicalidade. Praticantes desta arte marcial brasileira aprendem não
apenas a lutar e a jogar, mas também a tocar os instrumentos típicos e a cantar.
Um capoeirista que ignora a musicalidade é considerado incompleto.
A Roda de Capoeira foi registrada como bem cultural pelo IPHAN no ano de 2008, com base em inventário realizado nos
estados de Pernambuco,
da Bahia e
do Rio de Janeiro. E em
novembro de 2014,
recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Existem duas possibilidades comumente
inventadas para se explicar a origem do termo "capoeira":
·
Derivaria do cesto homônimo utilizado pelos escravos para transportar as
aves capadas até os mercados onde elas seriam comercializadas: os escravos, no
caminho até os mercados, se distrairiam com movimentos de luta, originando,
assim, a denominação "capoeira" para os movimentos praticados.
·
Derivaria do termo tupi kapu'era,
que significa "o que foi mata", através da junção dos termos ka'a ("mata")
e pûera ("que foi”. Refere-se às áreas de mata rasteira
do interior do Brasil onde era praticada agricultura indígena. Acredita-se que
a capoeira tenha obtido o nome a partir destas áreas que cercavam as grandes
propriedades rurais de base escravocrata. Capoeiristas fugitivos da escravidão
e desconhecedores do ambiente ao seu redor frequentemente usavam a vegetação
rasteira para se esconderem da perseguição dos capitães do mato.
Origem
Considera-se que a capoeira tenha
surgido em fins do século XVI no Quilombo dos Palmares, situado na então Capitania de
Pernambuco.
A partir do século XVI, Portugal
começou a enviar escravos para o Brasil, provenientes primariamente da África
Ocidental. Os povos mais frequentemente vendidos no Brasil faziam parte dos
povos iorubá, jeje e hauçá e do grupo banto (incluindo os
congos, os quimbundos e os Kasanjes), provenientes
dos territórios localizados atualmente em Angola e Congo.
No século XVII, era costume dos
povos pastores do sul da atual Angola, na África, comemorar a
iniciação dos jovens à vida adulta com uma cerimônia chamada n'golo (que
significa "zebra" em quimbundo)Durante a cerimônia, os homens competiam numa luta animada pelo toque
de atabaques em que ganhava quem conseguisse encostar o pé na cabeça do
adversário. O vencedor tinha o direito de escolher, sem ter de pagar o dote,
uma noiva entre as jovens que estavam sendo iniciadas à vida adulta. Com a
chegada dos invasores portugueses e a escravização dos povos africanos, esta
luta foi introduzida no Brasil.
No Brasil, assim como no restante da
América, os escravos africanos eram submetidos a um regime de trabalho forçado.
Eram também forçados a adotar a língua portuguesa e a religião católica. Como
expressão da revolta contra o tratamento violento a que eram submetidos, os
escravos passaram a praticar as artes marciais de suas pátrias de origem nos
terrenos de mata mais rala conhecidos como "capoeiras" (termo que vem
do tupi kapu'era, que significa "mata que foi", se
referindo aos trechos de mata que eram queimados ou cortados para abrir terreno
para plantações dos índios). Essa prática levou gradualmente ao surgimento da
arte marcial conhecida como capoeira.
A capoeira ainda é motivo de
controvérsia entre os estudiosos de sua história, sobretudo no que se refere ao
período compreendido entre o seu surgimento e o início do século XIX,
quando aparecem os primeiros registros confiáveis com descrições sobre sua
prática.No século XVI, Portugal tinha um dos maiores impérios coloniais da
Europa, mas carecia de mão de obra para efetivamente colonizá-lo. Para suprir
este déficit, os colonos portugueses, no Brasil, tentaram, no início, capturar
e escravizar os povos indígenas, algo que logo se demonstrou
impraticável. A solução foi o tráfico de escravos africanos.
A principal atividade econômica
colonial do período era o cultivo da cana-de-açúcar. Os colonos portugueses
estabeleciam grandes fazendas, cuja mão de obra era primariamente escrava. O
escravo, vivendo em condições humilhantes e desumanas, era forçado a trabalhar
à exaustão, frequentemente sofrendo castigos e punições físicas. Mesmo sendo em
maior número, a falta de armas, a lei vigente, a discordância entre escravos de
etnias rivais e o completo desconhecimento da terra em que se encontravam
desencorajavam os escravos a rebelar-se. Neste meio, começou a nascer a
capoeira. Mais do que uma técnica de combate, surgiu como uma esperança de
liberdade e de sobrevivência, uma ferramenta para que o negro foragido,
totalmente desequipado, pudesse sobreviver ao ambiente hostil e enfrentar a
caça dos capitães do mato, sempre armados e montados a cavalo.
Nos quilombos
Não tardou para que grupos de
escravos fugitivos começassem a estabelecer assentamentos em áreas remotas da
colônia, conhecidos como quilombos. Inicialmente
assentamentos simples, alguns quilombos evoluíam atraindo mais escravos
fugitivos, indígenas ou até mesmo europeus que fugiam da lei ou da repressão
religiosa católica, até tornarem-se verdadeiros estados multiétnicos
independentes. A vida nos quilombos oferecia liberdade e a oportunidade do
resgate das culturas perdidas à causa da opressão colonial, este tipo de
comunidade formada por diversas etnias, constantemente ameaçada pelas invasões
portuguesas, a capoeira passou de uma ferramenta para a sobrevivência
individual a uma arte marcial com escopo militar.
O maior dos quilombos, o Quilombo dos
Palmares, resistiu por mais de cem anos aos ataques das tropas coloniais. Mesmo
possuindo material bélico muito aquém dos utilizados pelas tropas coloniais e,
geralmente, combatendo em menor número, resistiram a pelo menos 24 ataques de
grupos com até 3 000 integrantes comandados por capitães do mato. Foram
necessários dezoito grandes ataques de tropas militares do governo colonial
para derrotar os quilombolas. Soldados portugueses relataram ser necessário
mais de um dragão (militar) para capturar um quilombola, porque se
defendiam com estranha técnica de ginga e luta. O governador-geral da Capitania de Pernambuco declarou ser mais difícil
derrotar os quilombolas do que os invasores holandeses.
A urbanização
Com a transferência do então príncipe
regente dom João VI e de toda a corte portuguesa para o Brasil em 1808, devido à invasão de Portugal por tropas
napoleônicas, a colônia deixou de ser uma mera fonte de produtos primários e
começou finalmente a se desenvolver como nação. Com a subsequente abertura dos portos
a todas as nações amigas, o monopólio português do comércio colonial
efetivamente terminou. As cidades cresceram em importância e os brasileiros
finalmente receberam permissões para fabricar no Brasil produtos antes
importados, como o vidro.
Já existiam registros da prática da
capoeira nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife desde o século XVIII, mas o grande aumento do número de
escravos urbanos e da própria vida social nas cidades brasileiras deu à
capoeira maior facilidade de difusão e maior notoriedade. No Rio de Janeiro, as aventuras dos capoeiristas eram de tal jeito que o governo,
através da portarias como a de 31 de outubro de 1821, estabeleceu
castigos corporais severos e outras medidas de repressão à prática de capoeira.
Libertação dos escravos e proibição
No fim do século XIX, a escravidão
no Brasil era basicamente impraticável por diversos motivos, entre eles o
sempre crescente número das fugas dos escravos e os incessantes ataques das
milícias quilombolas às propriedades escravocratas. O império Brasileiro tentou
amenizar os diversos problemas com medidas como a lei dos Sexagenários e a lei do Ventre Livre, mas o Brasil inevitavelmente reconheceria o fim
da escravidão em 13 de maio de 1888 com a lei Áurea, sancionada pelo
parlamento e assinada pela princesa Isabel.
Livres, os negros viram-se
abandonados à própria sorte. Em sua grande maioria, não tinham onde viver, onde
trabalhar e eram desprezados pela sociedade, que os via como vagabundos. O
aumento da oferta de mão de obra europeia e asiática do período diminuía ainda
mais as oportunidades e logo grande parte dos negros foi marginalizada e, naturalmente,
com eles a capoeira.
Foi inevitável que diversos
capoeiristas começassem a utilizar suas habilidades de formas pouco
convencionais. Muitos começaram a utilizar a capoeira como guardas de corpo,
mercenários, assassinos de aluguel, capangas. Grupos de capoeiristas conhecidos
como maltas aterrorizavam o Rio de Janeiro. Em pouco tempo, mais
especificamente em 1890, a República Brasileira decretou a proibição da capoeira em todo o
território nacional, vista a situação caótica da capital brasileira e a notável
vantagem que um capoeirista levava no confronto corporal contra um policial.
Devido à proibição, qualquer cidadão
pego praticando capoeira era preso, torturado e muitas vezes mutilado pela
polícia. A capoeira, após um breve período de liberdade, via-se mais uma vez
malvista e perseguida. Expressões culturais como a roda de capoeira eram
praticadas em locais afastados ou escondidos e, geralmente, os capoeiristas
deixavam alguém de sentinela para avisar de uma eventual chegada da polícia.
A luta regional baiana
Em 1932, um período em que a
perseguição à capoeira já não era tão acentuada, mestre Bimba, exímio lutador no
ringue e em lutas de rua ilegais, fundou em Salvador a primeira
academia de capoeira da história. Bimba, ao analisar o modo como diversos
capoeiristas utilizavam suas habilidades para impressionar turistas, acreditava
que a capoeira estaria perdendo sua eficiência como arte marcial. Dessa forma,
Bimba, com auxílio de seu aluno José Cisnando Lima, enxugou a
capoeira, tornando-a mais eficiente para o combate e inseriu alguns movimentos
de outras artes marciais, como o batuque. Mestre Bimba também desenvolveu um
dos primeiros métodos de treinamento sistemático para a capoeira. Como a
palavra capoeira ainda era proibida pelo código Penal, Bimba chamou seu novo
estilo de Luta Regional Baiana.
Em 1937, Bimba fundou o
centro de Cultura Física e Luta Regional, com alvará da secretaria da Educação,
Saúde e Assistência de Salvador. Seu trabalho obteve aceitação social, passando
a ensinar para as elites econômicas, políticas, militares e
universitárias. Finalmente, em 1940, a capoeira saiu
do código Penal brasileiro e deixou definitivamente a ilegalidade. Começou,
então, um longo processo de desmarginalização da capoeira.
Em pouco tempo a notoriedade da
capoeira de Bimba demonstrou ser um incômodo aos capoeiristas tradicionais, que
perdiam espaço e continuavam a ser malvistos. Esta situação desigual começou a
mudar com a inauguração do Centro Esportivo de Capoeira Angola, em 1941,
por mestre Pastinha. Localizado no Pelourinho, em Salvador, o
centro atraía diversos capoeiristas que preferiam manter a capoeira em sua
forma mais original possível. Em breve, a notoriedade do centro cunhou em
definitivo o termo "capoeira angola" como nome do estilo tradicional
de capoeira. O termo não era novo, sendo, já na época do império, a prática da
capoeira apelidada, em alguns locais, de "brincar de angola" e
diversos outros mestres que não seguiam a linha de Pastinha acabaram
adotando-o.
Atualmente
Hoje em dia, a capoeira se tornou não
apenas uma arte ou um aspecto cultural, mas uma verdadeira exportadora da
cultura brasileira para o exterior. Presente em dezenas de países em todos os
continentes, todo ano a capoeira atrai ao Brasil milhares de alunos
estrangeiros e, frequentemente, capoeiristas estrangeiros se esforçam em
aprender a língua portuguesa em um esforço para melhor se envolver com a arte.
Mestres e contra-mestres respeitados são constantemente convidados a dar aulas
especiais no exterior ou até mesmo a estabelecer seu próprio grupo.
Apresentações de capoeira, geralmente administradas em forma de espetáculo,
acrobáticas e com pouca marcialidade, são realizadas no mundo inteiro.
O aspecto marcial ainda se faz muito
presente e, como nos tempos antigos, ainda é sutil e disfarçado. A malandragem
é sempre presente, capoeiristas experientes raramente tiram os olhos de seus
oponentes em um jogo de capoeira, já que uma queda pode chegar disfarçada até
mesmo em um gesto amigável. Símbolo da cultura afro-brasileira, símbolo da
miscigenação de etnias, símbolo de resistência à opressão, a capoeira mudou
definitivamente sua imagem e se tornou fonte de orgulho para o povo brasileiro.
Atualmente, é considerada patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Roda de capoeira
A roda de capoeira é um círculo de
capoeiristas com uma bateria musical em que a capoeira é jogada, tocada e
cantada. A roda serve tanto para o jogo, divertimento e espetáculo, quanto para
que capoeiristas possam aplicar o que aprenderam durante o treinamento. Os
capoeiristas se perfilam na roda de capoeira cantando e batendo palmas no ritmo
do berimbau enquanto dois
capoeiristas jogam capoeira. O jogo entre dois capoeiristas pode terminar ao
comando do tocador de berimbau ou quando algum outro capoeirista da roda
"compra o jogo", ou seja, entra entre os dois e inicia um novo jogo
com um deles.
Em geral, o objetivo do jogo da
capoeira não é o nocaute ou destruir o oponente. O maior objetivo do capoeirista ao entrar
em uma roda é a queda, ou seja, derrubar o oponente sem ser golpeado,
preferencialmente com uma rasteira. Na maioria das vezes, entre o jogo de um
capoeirista mais experiente e um novato, o capoeirista experiente prefere
mostrar sua superioridade "marcando" o golpe no oponente, ou seja,
freando o golpe um instante antes de completá-lo. Entre dois capoeiristas
experientes, o jogo poderá ser muito mais agressivo e as consequências mais graves.
A ginga é o movimento
básico da capoeira, mas além da ginga, também são muito comuns os chutes em
rotação, rasteiras, floreios (como o aú ou
a bananeira), golpes com as mãos, cabeçadas, esquivas, acrobacias (como o salto
mortal), giros apoiados nas mãos ou na cabeça e movimentos de grande elasticidade
O batizado
O batizado é uma roda de capoeira
solene e festiva, onde alunos novos recebem sua primeira corda e demais alunos
podem passar para graduações superiores. Em algumas ocasiões, podem-se ver
formados e professores recebendo graduações avançadas, momento considerado
honroso para o capoeirista. O batizado parte ao comando do capoeirista mais
graduado do grupo, seja ele mestre, contramestre ou professor. Os alunos jogam
com um capoeirista formado e devem tentar se defender. Normalmente, o jogo
termina com a queda do aluno, momento em que é considerado batizado, mas o
capoeirista formado pode julgar a queda desnecessária. No caso de alunos mais
avançados, o jogo poderá ser com mais de um formado, ou até mesmo com todos os
formados presentes, para as graduações avançadas.
O apelido
Tradicionalmente, o batizado seria o
momento em que o capoeirista recebe ou oficializa seu apelido, ou nome de
capoeira. A maioria dos capoeiristas passa a ser conhecida na comunidade mais
pelos seus respectivos apelidos do que por seus próprios nomes. Apelidos podem
surgir de inúmeros motivos, como uma característica física, uma particular
habilidade ou dificuldade, uma ironia, a cidade de origem, entre outros.
O costume do apelido surgiu na época
em que a capoeira era ilegal. Capoeiristas evitavam dizer seus nomes para
evitar problemas com a polícia e se apresentavam a outros capoeiristas ou nas
rodas pelos seus apelidos. Dessa forma, um capoeirista não poderia revelar os
nomes dos seus companheiros à polícia, mesmo que fosse preso e torturado. Hoje
em dia, o apelido continua uma forte tradição na capoeira, apesar de não ser
mais necessário.
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade
Em 24 de novembro de 2014, durante a
9ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda, que é realizada na
sede da Unesco, em Paris, teve a inscrição para recebimento do título aprovada. Em 26 de
novembro, a Unesco declara que a Roda de Capoeira é Patrimônio Cultural
Imaterial da Humanidade.
Música
O berimbau foi
introduzido à roda de capoeira no século XX. Antes, a prática era acompanhada
apenas por palmas e toques de tambores.
A música é um componente fundamental
da capoeira. Foi introduzida como forma de ludibriar os escravizadores,
fazendo-os acreditar que os escravos estavam dançando e cantando, quando na
verdade estavam desenvolvendo e treinando uma arte marcial para se defenderem.
Componente fundamental de uma roda de capoeira, ela determina o ritmo e o
estilo do jogo que é jogado. A música é criada pela bateria e pelo canto
(solista ou em coro), geralmente acompanhados de um bater de palmas.
A bateria é, tradicionalmente,
composta por três berimbaus, dois pandeiros e um atabaque, mas o formato pode variar excluindo-se ou incluindo-se algum
instrumento, como o agogô e o ganzuá. Um dos berimbaus define o ritmo e o
jogo de capoeira a ser desenvolvido na roda. Desta maneira, é a música que
comanda a roda de capoeira, não só no ritmo mas também no conteúdo.
Canções
As canções de capoeira são divididas
em partes solistas e respostas do coro, formado por todos os demais
capoeiristas presentes na roda. Dependendo do seu conteúdo, podem ser
classificadas como ladainhas, chulas, corridos ou quadras. A ladainha ou
lamento é utilizada unicamente no início da roda de capoeira. É parte do longo
grito "iê", seguido de uma narrativa solista cantada em tom solene.
Geralmente, é cantada pelo capoeirista mais respeitado ou graduado da roda.
Neste momento, não existe jogo, não se bate palmas e alguns instrumentos não
são tocados. A narrativa é seguida pelas homenagens tradicionais feitas pelo
solista (a Deus, ao seu mestre, a quem o ensinou e mais qualquer personagem
importante ou fator relevante à capoeira, como a malandragem), respondidas
intercaladamente pela louvação do coro e pelo início das palmas e dos
instrumentos complementares. O jogo de capoeira somente pode iniciar após o fim
da ladainha.
A chula é um canto em que a parte
solista é muito mais longa do que a resposta do coro. Enquanto o solista canta
dez, doze, ou até mais versos, o coro responde com apenas dois ou quatro
versos. A chula pode ser cantada em qualquer momento da roda. O corrido, forma
musical mais comum da roda de capoeira, é um canto onde a parte solista e a
resposta do coro são equivalentes, em alguns casos o número de versos do coro
superando os versos solistas. Pode ser cantado em qualquer momento da roda e
seus versos podem ser modificados e improvisados durante o jogo para refletir o
que está acontecendo durante a roda, ou para passar algum aviso a um dos demais
capoeiristas.
A quadra é composta de um mesmo verso
repetido quatro vezes, seja três versos solistas e uma resposta do coro, seja a
parte solista e a resposta intercaladas. Pode ser cantada em qualquer momento
da roda. As canções de capoeira têm assuntos dos mais variados. Algumas canções
são sobre histórias de capoeiristas famosos, outras podem falar do cotidiano da
comunidade. Algumas canções comentam o que está acontecendo durante a roda de
capoeira, outras divagam sobre a vida ou um amor perdido. Outras ainda são
alegres e falam de coisas tolas, cantadas apenas por diversão. Basicamente não
existem regras e alunos são encorajados a criar suas próprias canções.
Os capoeiristas mudam as canções
frequentemente de acordo com o que ocorre na roda ou fora dela. Um bom exemplo
é quando um capoeirista novato demonstra notável habilidade durante o jogo e o
solista canta o verso "e o menino é bom", seguido pelo coro com o
verso "bate palma pra ele". A letra da música é constantemente usada
para passar mensagens para um dos capoeiristas, na maioria das vezes de maneira
velada e sutil.
Toques de capoeira
O toque de capoeira é o ritmo tocado
pelos berimbaus, seguidos pelos demais instrumentos. Podem ser executados desde
bem lentamente (como no toque de Angola), induzindo a um jogo mais lento e
estratégico, até bastante acelerados (como em São Bento Grande), induzindo a um
jogo rápido, ágil e acrobático. Podem também ter outros significados que vão
além do jogo ou comandar uma roda restrita, como o toque de Iúna.
Berimbaus. Da esquerda para
direita: viola, médio e gunga ou berra-boi
Em uma roda de capoeira, a forma mais
usual é iniciar com o toque de Angola e subir o ritmo gradualmente, encerrando
com o toque São Bento Grande em alta velocidade. Contudo não existem regras,
uma roda pode manter sempre o mesmo toque ou mesmo inverter, começando de modo
acelerado e terminando de modo lento.
Alguns dos toques mais comumente
utilizados:
A dança e a capoeira
Devido a sua origem e história,
existiu sempre a necessidade de se esconder ou disfarçar o aprendizado e a
prática da capoeira. Na época da escravidão, era um risco
enorme aos senhores de engenho possuir escravos hábeis em uma arte-marcial.
Para evitar represálias por parte de seus senhores, os escravos praticavam
enquanto seus companheiros cantavam e batiam palmas. Os golpes e esquivas eram
praticados durante uma falsa dança que seria o embrião da atual ginga.
Da falsa dança da época dos engenhos
de açúcar até os tempos mais atuais, a ginga evoluiu até se tornar uma
estratégia de combate, cujo objetivo principal é não oferecer ao oponente um
alvo fixo. Mesmo hoje em dia a maioria dos leigos à primeira vista acredita
tratar-se a capoeira de uma coreografia, ou de uma dança acrobática. Outras
manifestações culturais como o batuque, o maculelê, a puxada de rede e o samba de roda são danças
fortemente ligadas à capoeira, por também terem nascido da mesma cultura.
Estilos
Falar sobre estilos na capoeira é um argumento difícil, visto que nunca
existiu uma unidade na capoeira original, ou um método de ensino antes da década de 1920. De qualquer
forma, a divisão entre dois estilos e um subestilo é amplamente aceita.
Angola
Capoeira Angola refere-se a toda a
capoeira que mantém as tradições da época anterior à da criação do estilo
Regional. Em outras palavras é a capoeira mais tradicional. Existindo em
diversas áreas do país desde tempos mais remotos, notadamente no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife, é impossível precisar onde e quando a capoeira Angola começou a tomar
sua forma atual.
O nome "Angola" já começa a
aparecer com os negros que vinham para o Brasil oriundos da África, embarcados
no Porto de Luanda, que, independente de sua origem, eram designados na chegada ao Brasil
de "negros de Angola". Em alguns locais, a população se referia ao
jogo de capoeira como "brincar de Angola" e, de acordo com Mestre Noronha, o "Centro de
Capoeira Angola Conceição da Praia", criado pela nata da capoeiragem
baiana, já utilizava ilegalmente o nome "capoeira Angola" no início
da década de 1920.
O nome "Angola" foi
finalmente imortalizado por Mestre Pastinha, ao inaugurar
em 23 de fevereiro de 1941 o
"Centro Esportivo de capoeira Angola" (CECA). Pastinha foi conhecido
como grande defensor da "capoeira tradicional", prestigiadíssimo por
capoeiristas de renome como Mestre João Grande e Mestre Moraes. Com o tempo,
diversos outros grupos de "capoeira tradicional" passaram a adotar o
nome Angola para seus estilos.
A Angola é o estilo mais próximo de
como os escravos lutavam ou jogavam a capoeira. Caracterizada por ser
estratégica, com movimentos furtivos executados perto do solo ou em pé
dependendo da situação a enfrentar, ela enfatiza as tradições da malícia, da
malandragem e da imprevisibilidade da capoeira original. Alguns angoleiros
afirmam que seu domínio é muito complicado, envolvendo não só a parte mecânica
do jogo mas também características como sutileza, o subterfúgio, a
dissimulação, a teatralização, a mandinga ou mesmo a brincadeira para superar o
oponente. A bateria típica em uma roda de capoeira Angola é composta por
três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um agogô e um ganzuá.
Regional
A capoeira regional começou a nascer na década de 1920, do encontro
de mestre Bimba com seu futuro aluno, José Cisnando Lima. Ambos acreditavam
que a capoeira estaria perdendo seu valor marcial e chegaram à conclusão de que
uma reestruturação era necessária. Bimba criou, então, sequências de ensino e metodizou o
ensino de capoeira. Aconselhado por Cisnando, Bimba chamou sua capoeira
de Luta Regional Baiana, visto que a capoeira ainda era ilegal na
época.
A base da "capoeira
regional" é a capoeira tradicional mais enxuta, com menos subterfúgios e
maior objetividade. O treinamento era mais focado no ataque e no contra-ataque,
com muita importância para a precisão e a disciplina. Bimba também incorporou
alguns golpes de outras artes marciais, notadamente o batuque, antiga luta de
rua praticada por seu pai. O uso de acrobacias e saltos era mínimo: um dos
fundamentos era sempre manter ao menos uma base de apoio. Como dizia Mestre
Bimba, "o chão é amigo do capoeirista". A capoeira regional também
introduziu, na capoeira, o conceito de graduações. Na academia de mestre Bimba,
existiam três níveis hierárquicos: calouro, formado e formado especializado. As
graduações eram determinadas por um lenço amarrado na cintura.
As tradições da roda e do jogo de
capoeira foram mantidas, servindo para a aplicação das técnicas aprendidas em
aula. A bateria, contudo, foi modificada, sendo composta por um único berimbau
e dois pandeiros. Uma das maiores honras para um discípulo era a permissão para
jogar iúna. O jogo de
iúna tinha a função simbólica de promover a demarcação do grupo dos formados
para o grupo dos calouros. A única peculiaridade técnica do jogo de iúna em
relação aos jogos realizados em outros momentos da roda de capoeira era a
obrigatoriedade da aplicação de um golpe pré-estabelecido no desenrolar do
jogo. O jogo também destacava-se pela maior habilidade dos capoeiristas que o
executavam. O jogo de iúna era praticado apenas ao som do berimbau, sem palmas
ou outros instrumentos, o que reforçava seu caráter solene. Ao final de cada
jogo, todos os participantes aplaudiam os capoeiristas que saíam da roda.
A luta regional baiana tornou-se
rapidamente popular, levando a capoeira ao grande público e finalmente mudando
a imagem do capoeirista, tido no Brasil até então como um marginal. Das muitas
apresentações que mestre Bimba fez com seu grupo, talvez a mais conhecida tenha
sido a ocorrida em 1953 para o então presidente da república Getúlio Vargas, ocasião em que
teria ouvido do presidente: "A capoeira é o único esporte verdadeiramente
nacional".
Capoeira contemporânea
A partir da década de 1970 um estilo
misto começou a adquirir notoriedade, com alguns grupos unindo os fatores que
consideravam mais importantes da Regional e da Angola.
Notadamente mais acrobático, este estilo misto é visto por alguns como a evolução
natural da capoeira, por outros como descaracterização ou até mesmo
mal-interpretação das tradições capoeirísticas. Com o tempo, toda capoeira que
não seguia as linhas da Regional ou da Angola, mesmo as amalgamadas com outras
artes marciais, passou a se denominar "Contemporânea".
Golpes e movimentos.
A capoeira usa primariamente os pés
como ataque. Golpes podem ser diretos, como no caso do Martelo, ou giratórios, como no caso da Meia-lua de compasso. A rasteira é de suma
importância, considerada por muitos como a melhor arma disponível para o
capoeirista. Desenvolvida para o combate em desvantagem, o ataque do
capoeirista deve ser aplicado no momento oportuno e de forma definitiva.[carece de fontes]
A defesa usa o princípio da não
resistência, isto é, evitar um golpe com uma esquiva em vez de
apará-lo. Esquivas podem ser executadas tanto em pé quanto com os apoios das
mãos no chão. No caso de impossibilidade da esquiva, o capoeirista se defende
aparando ou desviando o golpe com as mãos ou as perna. A ginga é
importantíssima para a defesa e para o ataque do capoeirista, tornando o
capoeirista imprevisível durante o ataque e dificultando um possível
contra-ataque, além de evitar que o capoeirista se torne um alvo fixo. Completam
a técnica as cabeçadas, floreios (acrobacias no solo), tesouras, cotoveladas e
outras.
Quadro com os nomes dos golpes
Graduação
Devido à sua vastidão e à sua origem, a capoeira nunca teve unidade ou
consenso. O sistema de graduação segue o mesmo caminho, nunca tendo existido um
sistema padrão que fosse aceito pela maioria dos grandes mestres.
Dessa forma, o sistema de graduação varia muito de grupo para grupo. A própria
origem do sistema é recente, tendo partido com a Luta Regional Baiana de Mestre Bimba, na década
de 1930. Bimba utilizava
lenços de seda para diferenciar seus alunos entre aluno formado, aluno
especializado e mestre. Alunos novos não possuíam graduação.Atualmente, o
sistema de graduação mais comum é o de cordas (também chamadas cordéis ou
cordões) de diferentes colorações amarrados na cintura do jogador. Alguns
grupos usam diferentes sistemas, ou até mesmo nenhum sistema. Existem várias
entidades (Ligas, Federações e Confederações) que tentam organizar e unificar a
graduação na capoeira. O sistema mais comum é o da Confederação Brasileira de Capoeira, que adota o
sistema de graduação feito por cordas seguindo as cores da bandeira brasileira, de fora para dentro (iniciado na época em que a
capoeira oficialmente era considerada parte da Federação Brasileira de
Pugilismo).Apesar de muito difundido com diversas variações, muitos grupos
grandes e influentes utilizam cores diferentes ou mesmo graduações diferentes.
A própria Confederação Brasileira de Capoeira não é amplamente aceita como
representante principal da capoeira.Sistemas de graduação1) Confederação
Brasileira de Capoeira Graduação básica adulta (a partir de 15 anos)
Iniciante: sem corda ou cordão
·
Batizado: verde
·
Graduado: amarelo
·
Avançado: azul
·
Intermediário: verde e amarelo
·
Adiantado: verde e azul
·
Estagiário: amarelo e azul
Graduação avançada - docente de
capoeira
·
Formado: verde, amarelo e azul - 5 anos de capoeira - idade mínima 18
anos
·
Monitor: verde e branco - 7 anos de capoeira - idade mínima 20 anos
·
Instrutor: amarelo e branco - 12 anos de capoeira - idade mínima 25 anos
·
Contramestre: azul e branco - 17 anos de capoeira - idade mínima 30 anos
·
Mestre: branco - 22 anos de capoeira - idade mínima 35 anos
2) Outro sistema
Sistema mais comumente usado por
muitos grupos regularizados, porém não-filiados por opção à Confederação
Brasileira de Capoeira por variadas razões. Este sistema utiliza as cores
primárias e secundárias, sendo as misturas de cores nas cordas descritas como
"Transformações", ou seja, simbolizando a saída de uma graduação e
ingresso à outra seguinte.
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Iniciante: sem corda ou cordão
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Batizado: crua (sem coloração)
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Graduado iniciante: crua e amarela
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Graduado: amarela
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Intermediário: amarela e laranja
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Adiantado: laranja
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Estagiário: laranja e azul
Graduação avançada - docente de
capoeira
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Formado: azul - 5 anos de capoeira - idade mínima 18 anos
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Monitor trainee: azul e verde - 7 anos de capoeira - idade mínima 18
anos
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Monitor: verde - 7 anos de capoeira - idade mínima 20 anos
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Instrutor trainee: verde e roxa - 12 anos de capoeira - idade mínima 23
anos
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Instrutor: roxa - 12 anos de capoeira - idade mínima 25 anos
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Professor: roxa e marrom - 17 anos de capoeira - idade mínima 28 anos
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Contramestre: marrom - 17 anos de capoeira - idade mínima 30 anos
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Mestrando: marrom e vermelha - 20 anos de capoeira - idade mínima 33
anos
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Mestre: vermelha - 22 anos de capoeira - idade mínima 35 anos
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Grão-mestre: branca - 36 anos de capoeira e pelo menos 18 anos como
mestre - idade mínima 55 anos
Graduação infantil (até 14 anos) —
idêntica à graduação básica, porém metade da corda possui a cor cinza. A
graduação infantil restringe-se até a graduação de estagiário. Para que o aluno
se gradue como docente de capoeira deve atingir a idade mínima de 18 anos. O
tempo de cada graduação varia conforme sua importância. As cordas iniciais,
como a verde e a amarela, podem ser conquistadas em menos de um ano; por outro
lado, chegar às cordas avançadas, notadamente as de contramestre e mestre, pode
levar anos, e exige-se profundo conhecimento da capoeira para serem
conquistadas — esse conhecimento, no entanto, não quer dizer saltos ou
acrobacias, mas conhecimento instrumental, teórico, prática de docência,
qualidade de jogo, respeito, cursos de aperfeiçoamento e boa índole pessoal são
alguns dos requisitos básicos para tais graduações.
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Observação:
Cada grupo de capoeira tem seu sistema de graduação próprio, assim também como
alguns nomes de golpes varia conforme a região.
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